Estudantes de Joinville participam de projeto e produzem livro em versão física e digital

Você conhece aquele ditado que diz que todos precisam ter, pelo menos uma vez na vida, a experiência de publicar um livro? Isso se tornou realidade para 217 alunos da Escola Municipal Professora Thereza Mazzolli Hreisemnou, em Joinville.

Turma compartilhou a experiência de produzir o próprio livro, dividindo ideias e aprendizados

Turma compartilhou a experiência de produzir o próprio livro, dividindo ideias e aprendizados – Foto: Leve Fotografia/Divulgação/its Teens

Por meio da Estante Mágica, projeto que permite o desenvolvimento e a publicação da própria história, os contos escritos e ilustrados pelas crianças foram disponibilizados em versões físicas e digitais.

O lançamento fez da quadra da escola um palco para a noite de autógrafos, com a presença dos familiares dos autores mirins, que vivenciaram o lançamento com desfile pelo tapete vermelho.

E o cenário foi a realização de um sonho, pelos menos para as amigas Micaela Luiza Reis Rodrigues, 10, Sofia Fernandes Floriano da Silva, 9, e Melissa Chiudini, 10, estudantes do quarto ano.

Com histórias de um gato e uma raposa, três melhores amigos que derrotaram uma nuvem e a menina em um reino em que tudo é vegetal e fruta, as colegas aproveitaram a oportunidade para concretizar algo que já era um desejo.

“A primeira brincadeira que fizemos foi fingir que éramos escritoras. Fizemos histórias e contamos umas para as outras”, diz Micaela, lembrando do sonho compartilhado entre elas.

Os estudantes tiveram o prazer de descobrir na prática os desafios da vida de um escritor, seja para sintetizar em algumas páginas os sentimentos, seja na hora de definir o título ou a capa.

As educadorasPatrícia Ferrari, Sarah Linsmeyer Soares da Costa, Rosiane do Socorro Cortinhas de Jesus, Eva Josefa Gomes da Silva Jacinto, Roseles dos Santos e Erika Rebeca da Silva Alves Sales fizeram parte do processo.

“Primeiro as professoras trabalharam a escrita das histórias, depois eles ilustraram, tinham que dividir em seis partes e fazer um desenho para cada parte. Depois tivemos a participação dos pais com a biografia”, relembra a supervisora dos anos iniciais, Justina de Almeida.

Mais do que expor as próprias criações, existem etapas do processo que aproximaram os estudantes na hora de pensar na ideia ou nos momentos da ilustração.

Isso porque o processo começou com a inscrição da escola, seguida da definição de tema de cada um, a produção das ilustrações e a criação de um jogo virtual com os personagens que fizeram parte das histórias — aqui, cada criança pôde desenvolver o desafio de acordo com o que foi publicado nas páginas.

Para facilitar a criação e a verificação, cada educadora ficou responsável por orientar uma turma, levando em consideração as necessidades e técnicas precisas para alcançar o resultado.

“O trabalho foi importantíssimo. Muitas vezes a criança pode começar uma história, abre um leque de informações, e depois para conseguir fechar em seis páginas não é tão simples assim. A professora estava sempre junto, trabalhando naquilo”, salienta a supervisora.

Mesmo que a contação de história e a produção textual façam parte da prática escolar, o desafio de escrever o próprio livro serviu de motivação para as profissionais.

“As histórias não são reescritas, eles mesmos que criaram. Na nossa sala tem um menino que fez o Pinóquio, e na história, cada vez que alguém brigava com ele, ele ficava zangado e engordava”, conta Roseles, que lembra que a contação dos contos foi uma das etapas antes de colocar a mão na massa.

A leitura do livro foi a oportunidade de conhecer os contos e ideias dos colegas de turma, incentivando o estudo

A leitura do livro foi a oportunidade de conhecer os contos e ideias dos colegas de turma, incentivando o estudo – Foto: Leve Fotografia/Divulgação/its Teens

Acompanhar o processo, pensado nas folhas do caderno antes da notoriedade no livro, causou a sensação de dever cumprido, pelo menos para a professora Eva Josefa Gomes da Silva Jacinto.

“Quando viram que estava pronto, ou até mesmo quando alguns viram na lousa, eles ficaram maravilhados, e um amigo queria ler o do outro. No início ficaram meio perdidos: ‘como assim contos de fada moderno? Vou falar do quê?’, até que saíram sereias e dinossauros no espaço.”

Por mais que o momento da produção tenha sido cercado de sentimentos e novas sensações, a emoção ficou para a noite do lançamento, momento em que os familiares compartilharam a entrada dos estudantes.

“O olhar deles, nervosos, porque eles viram: ‘realmente o nosso livro foi impresso’. No outro dia, quando voltamos pra sala, eu fiz a pergunta: ‘vocês fariam diferente?’, aí eles: ‘professora, amei meu livro, mas eu colocaria algumas coisas diferentes, melhoraria um pouco mais’, aí já fez aquele gancho, fizemos outra produção textual e eles: ‘professora, meu texto daria para fazer outro livro”, comenta Erika, que viu na turma a chance de pensar na próxima produção.

Para aqueles que testaram as habilidades pela primeira vez, a produção do livro foi o momento de libertar a imaginação. “Fiquei muito nervosa quando a professora falou que íamos escrever e fazer algo diferente. Foi nossa primeira vez, nunca fizemos um livro, ficamos bem ansiosos, bem nervosos. O meu livro foi inspirado em uma nuvem e uma princesa”, diz Soriane de Oliveira, 11, do quarto ano.

Para aqueles que já passaram por uma experiência com livro, mesmo que pequena, a alternativa foi uma oportunidade para apresentar novos pontos de vista de histórias conhecidas.

“A minha história fala sobre a ‘Chapeuzinho Vermelho’, só que eu pensei em mudar um pouco e virou a ‘Chapeuzinho arco-íris’. O sonho dela era conhecer todas as cores do mundo, e o vilão dessa história, que seria o lobo mau, virou uma raposa”, conta Raul Assis da Silveira Fernandes, 10, do quarto ano.

No caso de Rafaelly Dias Pereira, 10, do quarto ano, a noite de autógrafos foi memorável. “Quando cheguei em casa só ficava pensando nisso. Quando chegou a minha vez, fiquei muito nervosa porque íamos assinar o nosso próprio livro”, relata a aluna.

Para Isabelli Vitória Friedemann Fernandes, 10, do quarto ano, a história de amizade entre uma fada e uma menina foi o ponto de partida para escrever a história.

Há quem tenha usado como inspiração contos famosos, como os “Três Porquinhos”, opção de Bruno Geraldo Brunel, 9, do quarto ano, que criou os “Três Irmãos”. Sobre a experiência de pensar em uma nova abordagem para aquilo que já é conhecido, a diversão foi palavra-chave.

Estante Mágica e livro

O livro foi disponibilizado em versão impressa e digital, facilitando o acesso de estudantes e familiares

O livro foi disponibilizado em versão impressa e digital, facilitando o acesso de estudantes e familiares – Foto: Leve Fotografia/Divulgação/its Teens

O desejo de aumentar a proximidade dos jovens com a leitura e o intuito de compreender a potência da educação e como os livros são essenciais na rotina escolar foram alguns dos incentivos para a criação do projeto Estante Mágica.

Os primeiros movimentos começaram a surgir em 2009 e o número de escolas parceiras e livros lançados surpreende.

“Mais de sete mil escolas já participaram no Brasil, México, Colômbia e mais outros seis países onde aplicamos a Estante Mágica. São dois milhões e meio de crianças que já puderam escrever suas próprias histórias e transformar isso em e-book e livro físico, celebrado no dia do autógrafo. Temos muito orgulho dos números. Cada história conta para essa grande transformação que fazemos com o maior projeto de incentivo à leitura e escrita da América Latina”, enaltece o diretor e cofundador Robson Melo.

Para além do que já foi possível conquistar, o foco está no protagonismo dos contos e criações, proporcionando novos mundos e possibilidades.

“Aquele livro é dele, do amigo dele, é feito pela própria criança, aquela história passa a ser valorizada. Entendemos que uma criança não é uma página em branco, ela carrega em suas histórias a educação que está acontecendo a partir das próprias vivências. Quando você consegue valorizar e permitir que ela conte em um livro, um livro de verdade que ela vai celebrar, não só com a família mas com professores e amigos, isso é um ganho muito grande para o educador e o estudante, pensando em um modelo de ensino-aprendizagem que é de mão dupla”, salienta Robson.

É no observar, compartilhar e elaborar que as turmas comprovam o ensino que é passado dia a dia em sala de aula, apresentando, de acordo com cada perspectiva, aquilo que foi mais marcante — significativo o suficiente para estar em um livro.

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