Apenas 50% dos times da Série A têm acompanhamento psicológico para os atletas

Um tema muito delicado continua sendo tratado como um verdadeiro tabu nos bastidores do futebol brasileiro: a saúde mental dos jogadores. Segundo um levantamento realizado pela Trivela, apenas 50% dos 20 clubes do Brasil da série A mantêm  um psicólogo fixo na comissão técnica.

Na imagem aparece um atleta que precisa de acompanhamento psicológico.

Conforme um levantamento feito pela Trivela, o acompanhamento psicológico para os atletas ainda é tratado como um tabu – Foto: Mojo AI/Divulgação/ND

A mesma pesquisa aponta que os times América-MG, Corinthians, Cruzeiro, Goiás e Grêmio, quando há demanda, direcionam o atleta para profissionais externos fazerem o acompanhamento psicológico dos jogadores.

Acompanhamento psicológico para os atletas é fundamental, segundo especialista

Para o psicólogo esportivo e analista de projetos na Condurú Consultoria, José Rezende, o não acompanhamento psicológico adequado em torno da saúde mental no futebol tem consequências significativas.

O psicólogo aponta também que os dados da Trivela deixam claro que há uma lacuna preocupante na abordagem desse aspecto fundamental do desempenho esportivo.

“Atletas enfrentam uma pressão constante para performar em alto nível, lidando com expectativas da torcida, mídia e dirigentes”, diz o psicólogo.

“No entanto, sem o suporte adequado, problemas como ansiedade, depressão e estresse podem se manifestar, afetando não apenas o desempenho em campo, mas também a qualidade de vida dos jogadores”, pontua Rezende.

Pandemia agravou distúrbios de ansiedade e depressão – Foto: Kat Smith/Pexels/Divulgação/ND

Já alguns clubes têm reconhecido a importância de incluir profissionais de saúde mental em suas comissões técnicas para fazer um acompanhamento psicológico efetivo. No entanto, muitos ainda hesitam em adotar essa prática.

O tabu em torno de questões relacionadas à saúde continua sendo um grande obstáculo, com alguns gestores e jogadores temendo que buscar ajuda seja visto como sinal de fraqueza ou incompetência.

Cenário demonstra sinais de mudança sobre a saúde mental dos jogadores?

Nos últimos anos, o futebol demonstrou uma maior aceitação às discussões sobre o acompanhamento psicológico dos atletas. Um exemplo foi o do atacante Richarlison, que revelou, em setembro do ano passado, que buscaria ajuda psicológica após enfrentar problemas pessoais.

Ricarlison marca dois gols em vitória do Brasil contra Gana – Foto: Lucas Figueiredo/CBF/ND

Ainda, há outras modalidades esportivas nas quais o assunto encontra menos resistência, conforme o especialista. E o acompanhamento psicológico para os atletas devem sair apenas dos gramados e tomar outros setores do esporte.

“Enquanto o futebol avança no reconhecimento da importância do bem-estar psicológico dos atletas, outros esportes coletivos e individuais parecem estar mais abertos a abordar essa questão de forma franca e aberta”.

Resende destaca ainda que a “disparidade sugere uma divergência na cultura esportiva e na percepção da saúde mental entre diferentes modalidades esportivas”.

O psicólogo aponta que “enquanto o futebol ainda tem uma cultura que passou por poucas mudanças neste sentido, os outros esportes demonstram uma predisposição maior para discutir e enfrentar esse aspecto crucial do desempenho esportivo”.

Apelos para a mudança de cultura no futebol do Brasil

Diante deste cenário, surgem apelos por uma mudança de cultura no futebol do Brasil. É importante que os clubes reconheçam a necessidade de priorizar o bem-estar emocional de seus atletas.

Ainda, o estudo sugere que investir em recursos e programas que promovam a saúde mental é essencial para o esporte.

Para Rezende, somente desta maneira será possível criar um ambiente onde os jogadores se sintam apoiados e capazes de lidar com os desafios emocionais que acompanham a carreira esportiva.

Psicólogo atendendo jogador de futebol – Foto: Mojo AI/Divulgação/ND

“Tendo em vista o papel do futebol na cultura brasileira, é possível ir além e pensar no esporte como uma vitrine para a valorização e o fim do tabu com relação à psicologia”, aponta o psicólogo.

Rezende destaca ainda que há muita resistência na sociedade em procurar ajuda especializada, “principalmente para os homens que, culturalmente, estão neste papel de não buscar esse tipo de acompanhamento e ter que lidar com todas as suas questões sem qualquer acompanhamento”, destaca Rezende.

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