Heróis na Itália: conheça a participação de Anita e Giuseppe Garibaldi na unificação italiana

Quando partiu de Laguna, ao lado de Giuseppe Garibaldi, para nunca mais voltar, Anita Garibaldi tinha apenas 18 anos de idade. Em 1º de março de 1848, dia em que desembarcou em Gênova, na Itália, tinha 26, três filhos, falava quatro idiomas e persistia nos ideais que a fizeram lutar ao lado do companheiro ao longos dos anos e que agora a faziam sair pela primeira vez da América, também para nunca mais voltar.

Aclamada por centenas de pessoas que a aguardavam e a saudaram com fogos e gritos de “viva a família de Garibaldi, viva a Itália, viva Garibaldi”, Anita percebeu logo em sua chegada o quanto ela e o marido eram esperados ali. Giuseppe representava uma grande esperança para o povo na luta pela unificação do país. Já Anita seria, anos mais tarde, considerada “mãe da pátria italiana”.

Foi naquele solo que a revolucionária de Laguna travou suas últimas batalhas, antes de morrer, em fuga e prematuramente, aos 27 anos. A morte de Anita Garibaldi, seu primeiro sepultamento e as lembranças de Giuseppe sobre a lagunense são o ponto de partida do espetáculo épico “A Tomada de Laguna”.

A superprodução que será encenada ao ar livre no Centro Histórico de Laguna, de 13 a 30 de março e com ingressos já à venda, reconta fatos importantes da região Sul do Brasil, permeados pelo romance guerreiro de Anita e Giuseppe Garibaldi.

Em duas horas de apresentação, com 300 atores em cena, recursos multimídia e inúmeros efeitos especiais, o espetáculo é uma material artístico de divulgação histórica, a maior encenação épica da história do Sul brasileiro.

Antes que o público sente nas arquibancadas ao lado do Mercado Público de Laguna, para assistir ao vivo à produção, o ND Mais segue apresentando a saga de Anita e Giuseppe Garibaldi em batalhas por independência. No capítulo de hoje, o cenário é a Itália.

Anita vai antes para a Itália de Giuseppe

Anita Garibaldi viajou sozinha com os filhos para a Itália com o objetivo de sondar o clima político daquele país onde 10 anos antes Giuseppe havia sido condenado à morte, por participar do movimento “Jovem Itália”, que defendia a unificação do território e a constituição de uma república democrática.

Em 1848, Giuseppe e outros condenados políticos já haviam sido anistiados pelo Papa Pio IX e os movimentos pela unificação da Itália ganharam força, inspirados nas revoluções liberais que ocorriam pela Europa. Anita percebeu, então, que era seguro o embarque do marido.

Cerca de um mês depois, Giuseppe se une à família na cidade de Nizza (atual Nice, na França), onde todos estavam morando com sua mãe, Rosa Raimondi.

Uma Itália fragmentada

Naquela época, a Itália não existia como um Estado-Nação, como a conhecemos hoje. O território era formado por vários pequenos reinos, administrados em parte pela Áustria, pela Espanha e também pela Igreja Católica, como consequência do Congresso de Viena, que em 1815 fragmentou a região.

“Garibaldi, no seu ideário político, tinha três projetos: acabar com o poder temporal do papa, unificar a Itália e expulsar os invasores”, afirma Adilcio Cadorin, historiador e autor do roteiro original do espetáculo “A Tomada de Laguna”.

No final de 1848, levantes populares, impulsionados pelo movimento “Jovem Itália”, exigiam em Roma um governo democrático, diversas reformas e uma declaração de guerra contra a Áustria. Amedrontado com os ataques do povo, o papa Pio IX, então comandante do trono romano, partiu em fuga.

Meses depois, uma Assembleia Constituinte foi convocada e Roma passou a ser governada por um triunvirato, aliança política entre três pessoas, que foi eleito. Era fevereiro de 1849 quando em sua praça central foi proclamada a Segunda República Romana. Anita e Giuseppe estavam lá para assistir à conquista histórica, que entretanto duraria muito pouco.

O ataque francês e a luta pela república

O papa Pio IX pediu ajuda militar a outros países católicos e em abril de 1949, cerca de 10 mil soldados franceses desembarcaram em Roma. Uma equipe foi designada a avisar os governantes republicanos de que recolocariam o pontífice no poder. Em assembleia e sob os gritos de “Guerra! Guerra!”, os revolucionários decidiram resistir e partir para o combate.

Com uma Legião Italiana formada por soldados de diferentes regiões, Giuseppe Garibaldi organizou seus homens para lutarem em Roma. Apesar de algumas vitórias do exército republicano, as dos franceses prevaleciam.

Anita estava em Nizza com a mãe de Garibaldi quando descobriu, por meio dos jornais, que os republicanos estavam cercados em Roma. Sem avisar Giuseppe, ela viaja para ficar ao lado do marido. Ao deixar as crianças sob os cuidados da avó, seria a última vez que veria seus filhos, enquanto carregava o quinto herdeiro no ventre.

Quando entrou no quartel-general em que o italiano estava reunido com seus soldados, o olhar prostrado de Giuseppe foi substituído imediatamente pela alegria em vê-la. “Homens, nós temos mais um soldado”, teria dito ele aos companheiros.

Sabendo que não mais conseguiriam vencer a batalha, Giuseppe propõe ao exército republicano sair de Roma para se reorganizarem a fim de surpreender o inimigo. Anita, o marido e os soldados partem em fuga em direção à Veneza.

As últimas batalhas e forças de Anita

Em meio às batalhas pelo caminho, Anita começou a apresentar febre muito alta e fraqueza. Historiadores acreditam que ela tenha contraído malária, doença que atingiu muitas pessoas na época.

Foi no cais de Cesenatico, à espera de uma embarcação para seguirem em fuga, que a mulher guerreira viveu os últimos momentos conscientes de sua vida. Na ocasião, já não sentia a criança se movimentar em seu ventre, prevendo que havia perdido o filho.

Chegando à cidade de Mandriole, Giuseppe pede abrigo em uma fazenda, com a mulher desfalecida nos braços. Foi ali mesmo e naquela noite que a heroína de dois mundos morreu, em 4 de agosto de 1849, às 19h45, com apenas 27 anos e grávida do quinto filho do casal.

Seu primeiro sepultamento foi feito em um campo aberto, em cova rasa, e sequer pode ser acompanhado por Giuseppe, que perseguido pelo exército austríaco, partiu para o exílio. Em 1859, quando retornou ao país, o italiano ofereceu à Anita o sepultamento que merecia, e à Itália a unificação que tanto sonhavam.

Histórias para o próximo capítulo. Não perca!

Ingressos à venda para “A Tomada de Laguna”

O espetáculo “ A Tomada de Laguna” será apresentado nos dias 13, 14, 15, 16, 21, 22, 23, 28 e 30 de março, sempre às 19 horas, junto às docas do Mercado Público, no Centro Histórico de Laguna.

Os ingressos estão à venda pelo site, onde é possível escolher as apresentações entre os dias 14 e 30 de março, já que o primeiro dia, 13, está reservado para uma ação solidária.

As entradas também estão à venda em 23 pontos de 17 cidades do Sul de Santa Catarina e também do Rio Grande do Sul. Em Laguna, há dois locais: a Recanto Surf, na localidade de Mar Grosso, e a Loja Recanto, no Centro.

“A Tomada de Laguna” é uma realização do Instituto Cultural Anita Garibaldi (CulturAnita), com patrocínio da Celesc, via Programa de Incentivo à Cultura (PIC), e apoio do Governo do Estado de Santa Catarina, Fundação Catarinense de Cultura, Prefeitura de Laguna e Fundação Lagunense de Cultura.

Onde fica e como chegar em Laguna

Laguna está localizada na região Sul de Santa Catarina, distante cerca de 130 quilômetros de Florianópolis. O aeroporto mais próximo da cidade é o Jaguaruna, a cerca de 50 quilômetros. Para quem for viajar de carro, acompanhe abaixo as distâncias entre diferentes regiões de Santa Catarina a Laguna e as principais vias de acesso.

Distância de Joinville a Laguna: 282 quilômetros. O principal acesso se dá pela BR-101, com pedágio pelo caminho.

Distância de Blumenau a Laguna: 252 quilômetros, via BR-101. Há pedágio pelo caminho.

Distância de Florianópolis a Laguna: aproximadamente 130 quilômetros. O principal acesso se dá pela BR-101, com pedágio pelo percurso.

Distância de Criciúma a Laguna: cerca de 95 quilômetros, via BR-101.

Distância de Lages a Laguna: aproximadamente 240 quilômetros. Os principais acessos são pela SC-114 e SC-390.

Distância de Chapecó a Laguna: cerca de 575 quilômetros. O principal acesso no momento é pela BR-282.