Camarão de Laguna: entenda como funciona a extração e a produção da iguaria no Sul do Estado

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Conheça o processo de extração e produção do delicioso camarão de Laguna, uma iguaria do Sul do Estado – Foto: Divulgação

Você sabia que Santa Catarina já esteve entre os cinco maiores produtores de camarão do Brasil? A iguaria, indispensável no verão, é destaque no Estado, principalmente em Laguna, na Região Sul.

O município fica a 120 km da Capital, tem menos de 50 mil habitantes e fica às margens da bacia hidrográfica do Rio Tubarão e do Complexo Lagunar Sul, que abrange as lagoas Santo Antônio dos Anjos, Mirim e Imaruí – onde se encontra o famoso camarão de Laguna, crustáceo que ganhou fama em todo o país e que hoje é fonte de sustento de quase 2 mil pescadores artesanais.

Hoje, menos de 20% do camarão que consumimos vem da pesca artesanal. Inclusive, o modo de vida e a subsistência dessas famílias é tema de pesquisas da Universidade Estadual de Santa Catarina e o diretor de pesquisa, Jorge Luiz Rodrigues Filho, é um dos professores que coordena esse trabalho.

“A Udesc vem articulando ações como objeto de estudo para que a gente possa pegar essa vocação científica da universidade e aplicar na região. Existe uma demanda global por informação e a ciência precisa estar balizada em questões teóricas globais, mas é muito importante regionalizarmos. A gente estuda a pescaria de camarão, para entender padrões e processos ecológicos associadas a ela e entender como possíveis ações de gestão, como o defeso, podem melhorar as pescarias” – explica.

Segundo o diretor, há um projeto muito interessante que articula as pescarias de camarão com o boto de Laguna, com o biguá e os seres humanos, buscando entender como uma espécie influencia na outra e a importância de cada uma delas no funcionamento do ecossistema – ou seja, uma cooperação  total entre ciência e a vida e a comunidade, já que também leva em consideração o conhecimento, a parceria e o auxílio dos pescadores e agricultores locais.

Uma de suas orientandas, por exemplo, analisa a cada 15 dias as amostras que recebe diretamente de pescadores. Ela pesa, mede e identifica espécies e tamanhos. Seu estudo é para embasar cientificamente as possíveis mudanças na legislação referente à época de defeso e quantidade de pesca.

Bárbara Heck Schallenberger, doutoranda do programa de ecologia da UFRGS, explica que a pesca de camarão é proibida entre 15 de julho e 15 de novembro, período em que o camarão à princípio está saindo da Lagoa e tem um tamanho maior. Seu estudo busca entender e definir qual é o melhor período de defeso do camarão, se é quando ele está saindo ou se é quando ele ainda está pequeno.

Conheça o Sistema Intensivo de produção

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Pesquisas em Santa Catarina estão aprimorando a produção de camarão, beneficiando economia, gastronomia e saúde – Foto: Divulgação

Para quem gosta de quantidade e qualidade, há um sistema de produção que está atraindo o interesse de muitos países do mundo – um modelo mais moderno, produtivo, sustentável e mais caro, por isso, menos explorado.

Na Lagoa de Imaruí a pesca artesanal também está presente, mas esconde o modo de produção que vem ganhando cada vez mais terreno e ocupando menos espaço: o Sistema Intensivo, bem diferente do modelo tradicional.

Mariana Heimy Kano é uma engenheira civil paulista que largou a cidade grande para comandar um projeto iniciado por amigos e hoje é carcinicultura. Ela mantém apenas três tanques e a quantidade de camarões por metro quadrado chega a 30 vezes mais do que nos viveiros convencionais.

Como a área é pequena, todo o processo é acompanhado em detalhes; as bactérias auxiliam na manutenção da qualidade da água, o que estimula a produção dos bioflocos microbianos que também servem de alimento para o camarão.

“A gente monitora diariamente a temperatura, o oxigênio, a amônia, o nitrito, o nitrato e a alcalinidade. Então, de acordo com os resultados, a gente faz diariamente alguma correção, repõe algum produto, repõe algo que vá subir a alcalinidade e ou que dê uma neutralizada na amônia, e esse cuidado é diário” – explica Mariana.

Outra diferença é o valor investido: assim como a produtividade é 30 vezes maior, calcula-se por volta de 2 milhões a 3 por hectare. Tornar esse sistema cada vez mais viável e sustentável é trabalho e desafio do Felipe, coordenador do grupo de pesquisa do laboratório de camarões marinhos da UFSC, em Florianópolis.

Foi ele que iniciou, há 20 anos, de forma pioneira no Brasil, os estudos com Sistema Intensivo em bioflocos. A busca por melhorias para aprimorar o método é constante. Há 10 anos, por exemplo, ele tem testado o sistema de forma integrada com outras espécies.

“Tainhas, tilápias, macroalgas, plantas halófitas, salicórnia, alecrim do mar… Então buscando a sustentabilidade, a gente integrou essas espécies para fazer uma ciclagem melhor de nutrientes no sistema e ser mais eficiente tem maior produtividade com menor impacto ambiental” – conta Felipe do Nascimento Vieira, coordenador do grupo de pesquisa LCM/UFSC.

O controle de temperatura da água, por exemplo, permite criar o camarão o ano inteiro, livre de conservantes e com exclusão de carga viral, as pesquisas têm financiamento local através da Fapesc, mas o modelo é tão promissor que vem chamando atenção também de outros países do mundo.

“Tem cerca de 30 parceiros internacionais Noruega, Suécia, Portugal, Espanha e eles já veem isso como como um futuro também. Então também tem apoiado esse tipo de pesquisa” – complementa Felipe.

Além disso, a produção em fazendas ao ar livre e a produção orgânica também estão ganhando o Estado. Os orgânicos se alimentam naturalmente, sem ração, apenas com o zooplâncton e o fitoplâncton.

Bom para a economia, para a gastronomia e para a saúde

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Descubra como o camarão, destaque da gastronomia catarinense, influencia positivamente na economia local e na qualidade de vida dos pescadores artesanais – Foto: Divulgação

Segundo a nutricionista Mariella Roinol, o camarão além de ser gostoso, tem várias propriedades, como vitaminas do Complexo B, que ajuda no nosso metabolismo e vitaminas do complexo D e E, que ajudam a prevenir doenças neurológicas.

Além disso, ele é rico em ômega-3, que ajuda também nas doenças cardiovasculares e, principalmente, a reduzir os níveis de triglicérides. Mariella conta que os melhores jeitos de consumir camarão nutricionalmente falando, é na opção de salada, ao bafo e grelhado.

Ela conta que pode comer a cabeça do camarão, principalmente se ele for menor, já que ela tem vários nutrientes.

“E aquele mito, de que as vísceras estão na cabeça do camarão, não é verdade. Elas acabam ficando ali, na região do intestino. Então vale a pena consumir a cabeça. E quando o camarão for muito grande a gente pode aproveitar para usar essa cabeça e fazer um caldo utilizar depois no risoto” – explica.

Se você ficou com água na boca, vontade de experimentar e aprender mais sobre a extração e a produção de camarão em Santa Catarina, assista ao episódio completo do programa Agro, Saúde e Cooperação sobre o tema.

O projeto idealizado pelo Grupo ND, conta com a parceria de instituições importantes, como a Ocesc, a Aurora, o Sicoob, o SindArroz Santa Catarina e a Fiedler Automação Industrial, buscando aproximar cada vez mais as pessoas do campo e o campo das pessoas.

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