À PF, catarinense nega ligação com Hezbollah e diz que foi ao Líbano intermediar ouro

Preso desde 8 de novembro, o representante comercial Jean Carlos de Souza, de 38 anos, morador de Joinville, foi ouvido na semana passada pela PF (Polícia Federal) no inquérito que apura a suposta ligação de brasileiros com o Hezbollah. Em depoimento, ele negou qualquer relação com o grupo extremista libanês.

Operação da Polícia Federal prendeu suspeitos de terrorismo no Brasil por eventual ligação com Hezbollah

Operação da Polícia Federal prendeu suspeitos de terrorismo no Brasil por eventual ligação com Hezbollah – Foto: PF/Divulgação/ND

O ND+ apurou junto a uma fonte que acompanhou o depoimento de Jean que o catarinense pareceu abatido com a investigação da PF, mas que se mostrou disposto em colaborar com o inquérito “e não se omitiu de qualquer pergunta”, explicando as motivações das viagens ao Líbano, entre dezembro de 2022 e outubro de 2023.

No depoimento, Jean confirmou aos delegados que se deslocou ao Líbano por três vezes durante o período. Ele disse que as viagens foram realizadas enquanto representante comercial para intermediação de compra e venda de ouro.

Ao ser questionado sobre as mensagens com libaneses encontradas em seu celular e email, Jean teria confirmado a autenticidade do conteúdo, mas reafirmou que se tratava de contatos de negócios comerciais.

Em outra resposta, Jean ainda teria afirmado que tinha condições financeiras para bancar as viagens.

Advogado crê em liberdade de catarinense

Procurado pelo ND+, o advogado José Roberto Timoteo da Silva, confirmou que Jean foi ouvido pela Polícia Federal e ratificou que o catarinense não tem ligação com o Hezbollah.

Silva diz que o mandado é por 30 dias e acredita que “não tem elementos” para transformar a prisão para preventiva — quando não há prazo para finalizar.

“Não tem elementos suficientes para uma prisão preventiva e as investigações já colheram todos os elementos possíveis. Acredito que será liberado”, espera o advogado, que ingressou no STF (Supremo Tribunal Federal) com uma reclamação para ter acesso completo aos autos do processo. O pedido está sob relatoria do ministro Nunes Marques.

Acusação de terrorismo

Segundo a Polícia Federal, Jean está preso temporariamente sob acusação de terrorismo.

Jean foi preso em um hotel onde estava hospedado em São Paulo, em 8 de novembro. Na audiência de custódia, o catarinense afirmou que vive uma rotina de viagens devido a sua atividade de negócios e que costuma ser revistado pelas autoridades nos aeroportos. Ele considerou ser “algo muito sério” ser acusado de terrorismo.

“Sempre que a Polícia Federal me para, eles têm o intuito de procurar drogas na minha bagagem. Sair de uma acusação de um tráfico, onde você vai esclarecer na hora, e me jogar em terrorismo é algo muito sério”, afirmou.

Na ocasião, Jean garantiu que está disposto a colaborar com as investigações e que disponibilizou as senhas do celular à polícia.

“Vou ficar 30 dias respondendo por algo absurdo, que não vai dar em nada”, acentuou Jean, que tem dois filhos, uma adolescente de 15 anos e um garoto de 10.

Por que PF liga brasileiros ao Hezbollah

De acordo com investigação da PF, Jean e outros brasileiros estariam envolvidos em planejamentos de ataques a prédios da comunidade judaica no Brasil sob mando do Hezbollah, grupo xiita libanês que conflita com Israel.

A investigação ainda diz que sinagogas estavam sendo monitoradas e fotografadas e relata o recrutamento de pessoas para atuar com grupos terroristas que atuam no Oriente Médio.

O inquérito foi aberto a partir de um alerta dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e de Israel.

Criado em 1982 em meio à guerra civil do Líbano, o Hezbollah é um partido político e um grupo militante muçulmano xiita com sede no Líbano. Com alianças com países como Irã e Síria, e em oposição a Israel, e o grupo é marcado por sua resistência à influência ocidental no Oriente Médio.

Com histórico de realização de ataques terroristas ao redor do mundo, as forças militares do grupo representam um desafio para Israel, seu “inimigo de longa data”, segundo especialistas, afirma o think tank Conselho de Relações Exteriores (CFR).

Quem é o grupo Hezbollah?

O Hezbollah foi fundado pela Guarda Revolucionária do Irã em 1982, durante a guerra civil no Líbano, conflito que durou entre os anos de 1975 e 1990. Segundo a Reuters, o grupo fez parte dos esforços em exportar a Revolução Islâmica de 1979 para a região e também combater as forças israelitas após a invasão do Líbano em 1982.

O Hezbollah recrutou muçulmanos xiitas libaneses ao compartilhar da ideologia islâmica xiita de Teerã. Com o passar dos anos, o grupo se tornou uma organização fortemente armada, com grande influência sobre o Estado libanês.

Israel é o principal alvo do grupo extremista, e sua comunidade vem sofrendo ataques do Hezbollah há décadas tanto no país quanto no exterior.

Em 1994, o grupo foi responsabilizado por carros-bomba que atingiram um centro comunitário judaico na Argentina, além de atentados à Embaixada de Israel em Londres.

O principal motivo que coloca Israel como inimigo é a ocupação israelense do sul do Líbano em 1978. Apesar de ter se retirado oficialmente do local em 2000, as disputas continuaram na zona fronteiriça das Fazendas de Sheeba.

Em 2006, o conflito entre Hezbollah e Israel virou uma guerra que durou um mês, durante a qual o Hezbollah lançou milhares de foguetes contra o território israelita. A tensão seguiu pelos anos seguintes, com ataques em 2019 e 2021.

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