Audiência na Alesc expõe violência e falta de política pública para pessoas em situação de rua

Uma audiência pública foi realizada na quarta-feira (13) na Alesc (Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina) para debater o aumento acelerado de pessoas em situação de rua no Estado. Sonale Moraes Arneiro Neves, mãe do menino assassinado com uma facada no Largo da Alfândega, foi uma das pessoas que deram o seu depoimento.

Adolescente estava na rua com amigos quando discussão com pessoa em situação de rua aconteceu; mãe falou em audiência pessoas em situação de rua na Alesc

Adolescente estava na rua com amigos quando discussão com pessoa em situação de rua aconteceu; mãe falou em audiência pessoas em situação de rua na Alesc – Foto: Monitoramento/Reprodução//ND

Muito emocionada, Neves relatou os detalhes que soube através dos colegas do seu filho. Segundo ela, eles estavam brincando quando Jonas, a pessoa em situação de rua, tentou “passar a mão” nas meninas. “Meu filho defendeu elas e repreendeu a atitude do Jonas. Ele então dá um tapão no rosto do meu filho, e o meu filho aponta o dedo indicador para ele e diz: ‘Só não vou revidar porque minha mãe me ensinou a te respeitar’”.

Sonale Moraes Arneiro Neves, mãe do adolescente morto em Florianópolis – Foto: REPRODUÇÃO/ALESC/ND

Depois, quando o menino vai para casa sozinho, Jonas vai atrás dele e difere uma facada no peito do menino. “Eu só queria que vocês soubessem a verdade”, falou com lágrimas nos olhos.

“Existem pessoas que precisam sim de oportunidade. Mas, dentro das pessoas de rua, existem os marginais. Essas deveriam ser catalogadas, para sabermos quais são interesseiros e quais são interessados, porque há uma diferença”.

Ivone Maria Perassa, coordenadora da Pastoral do Povo da Rua, trouxe alguns dados durante a audiência. Ela afirmou que, segundo o Cad Único, Santa Catarina tem cerca de 9.500 pessoas em situação de rua e que os 10 municípios com essa população mais numerosa são Florianópolis, Joinville, Itajaí, Blumenau, Balneário Camboriú, Lages, Criciúma, São José, Tubarão e Biguaçu, nesta ordem.

De acordo com Ivone, é comum ouvir nas reuniões dos municípios os servidores dizerem que não sabem o que fazer com as pessoas em situação de rua, e por isso, encaminham a outros municípios para fazerem o atendimento.

“Os municípios lá na ponta não sabem o que fazer, e o seu maior investimento é em passagens”.

Ela reclama que não existe nenhuma política pública no Estado voltada para essa população e pede que o governo auxilie “os municípios que estão perdidos”.

Laís de Santos Almeida, subcomandante da Guarda Municipal de Palhoça falou sobre a Operação Noite Segura. Ela disse que em 120 dias de operação já abordaram mais de 400 moradores de rua, 72% deles com passagem pela polícia. Ela contou que nenhuma destas pessoas queria ir para um abrigo.

“O abrigo tem regras, tem horário para entrar, não pode estar sob efeito de álcool e drogas. Nenhum deles quer entrar nessas condições”. Ela afirma que são  importantes reuniões como esta, para que se elaborem soluções em conjunto, já que Florianópolis, Palhoça e São José estão próximos e o problema de um “acaba sendo problema de todos”.

André Scheiffer, lembrou do caso de Giovane Ferreira de Oliveira, de 29 anos, pessoa em situação de rua em Blumenau, que em novembro levou 18 facadas de um pai de família que estava com seu filho ao lado.

“Não posso concordar com quem quer criminalizar toda a população de rua. Sim, existem pessoas que são violentas, mas não é a rua, é a própria sociedade. Vamos construir políticas públicas e deixar nossas diferenças de lado”, pede o morador.

O proponente da audiência, deputado estadual Sargento Lima (PL), falou da importância de escutar a população sobre um tema tão polêmico. Ele disse que o Estado tem recebido essas pessoas devido a falta de auxílio que existe na administração dos seus municípios de origem. “Nós temos que parar de discutir os efeitos, e pensar como podemos de forma mais inteligente participar de uma solução para esse problema”, afirmou.

Homem em situação de rua morre após ser espancado em briga no Centro de Florianópolis

No mesmo dia em que ocorreu a discussão na Alesc, o corpo de um homem em situação de rua foi encontrado sem vida pela Polícia Militar. Segundo as autoridades, o homem foi espancado por um grupo de moradores do Centro de Florianópolis. A Polícia ainda não informou se algum suspeito já foi identificado.

Corpo da vítima foi achado nesta quarta-feira (13) – Foto: Reprodução/ND

Veja como foi a audiência sobre pessoas em situação de rua em SC

 

 

 

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