Lixo, aulas e saúde: greve de servidores afeta rotina da população em Florianópolis

Moradora do Centro, a balconista de padaria Denielle da Silva Santos, 35 anos, trabalha das 6h30 às 15h num supermercado do Córrego Grande e precisa que a pequena Maitê fique na creche. A criança entra às 8h na escolinha, levada pela sobrinha de Denielle, e volta para casa com a mãe, no fim da tarde.

62,5% dos trabalhadores não aderiram à greve na educação, diz prefeitura de Florianópolis – Foto: LEO MUNHOZ/ND

Nos últimos dias, com a greve dos servidores públicos de Florianópolis, paralisando serviços de saúde, limpeza urbana e educação, a mãe temia não poder deixar a filha na escola, o que a impediria de trabalhar. A unidade que a Maitê frequenta, o Neim (Núcleo de Educação Infantil Municipal) Almirante Lucas Alexandre Boiteux é uma das 69 com atendimento parcial, após a paralisação iniciada terça-feira (12). A educação tem 1.400 profissionais em greve, representando 37,5% do total. A maioria, 2.335, ou 62,5% dos trabalhadores, não aderiram ao movimento grevista.

“A professora nos informou que só alguns colegas entraram em greve. Mas a gente fica com medo se vai ter a creche ou não, se todas vão aderir ou não. Podendo trazer, fiquei mais tranquila, porque aqui ela é bem cuidada”, disse Denielle. Segundo ela, os grevistas precisam pensar mais nas famílias.

“Não deixamos as crianças na creche porque queremos, é porque precisamos”, declarou.

Denielle conseguiu deixar a filha na creche mesmo no cenário de greve, mas esta não é a realidade para todas as mães que precisam deixar bebês ou crianças nas creches e escolas.

No segundo dia de paralisação no serviço público de Florianópolis, das 85 creches da cidade, 82 estavam em funcionamento, considerando aquelas com atendimento normal ou parcial. Já nas 39 unidades de educação fundamental, 37 funcionaram normalmente ou parcialmente. Ao todo, 1.061 profissionais estavam trabalhando e 968 paralisaram as atividades. Os dados foram repassados pela Secretaria Municipal de Educação e atualizados no fim da manhã de ontem.

Na saúde, 14% aderiram ao movimento

A greve também prejudica quem precisa de consulta médica, principalmente nos postos de saúde do Novo Continente, Itacorubi, Ponta das Canas, Trindade e Rio Tavares. Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, atualizados no fim da manhã de ontem, 14,53% dos profissionais que atuam na atenção primária aderiram à greve. A pasta enfatizou que os serviços emergenciais operam normalmente.

A Guarda Municipal reforçou a segurança nesses locais para que os atendimentos sigam tranquilamente e a população seja assistida, sobretudo nos casos emergenciais. A principal orientação é que a população utilize o Alô Saúde Floripa (0800 333 3233) para obter informações sobre o funcionamento das unidades e para saber onde ir caso precise de atendimento presencial. Além disso, o programa realiza atendimentos, inclusive consultas médicas por vídeo.

Prefeitura e sindicato negociam

Representantes da prefeitura e do sindicato se reuniram mais uma vez ontem e firmaram os primeiros acordos. Na área de saúde, por exemplo, a prefeitura garantiu a contratação de preceptores por distrito no período de funcionamento do curso de formação continuada dos ACS (Agente Comunitário de Saúde) e ACE (Agentes de Combate de Endemias).

Conforme a secretária municipal de Administração, Katherine Schreiner, todos os itens relacionados à educação, saúde e assistência social foram discutidos. Um novo encontro foi marcado para hoje e serão discutidas questões de Previdência e Fazenda.

Coleta de lixo foi afetada por greve de servidores em Florianópolis, diz prefeitura – Foto: LEO MUNHOZ/ND

“Estamos num bom começo, claro que a parte mais tensa é quando entramos na parte financeira, o que faremos hoje. Ontem discutimos mais as cláusulas sociais, que é mais fácil chegar ao consenso”, disse a secretária.

Ainda conforme Katherine, a prefeitura homologou o resultado do concurso do magistério e pretende chamar profissionais neste ano, considerando a demanda. Além disso, publicou um concurso para a saúde na última sexta-feira (8), visando chamar mais médicos e técnicos de enfermagem.

A prefeitura entrou na Justiça pedindo a ilegalidade da greve, o que foi deferido na noite de quarta-feira (13). Em outro processo relacionado à Comcap, que havia o acordo de não fazer greve nos próximos meses, também foi solicitada a ilegalidade e descumprimento do acordo firmado, a Justiça concedeu prazo para o sindicato se manifestar. Como a greve atual também paralisou serviços da Comcap, áreas da região central começam a sofrer com o acúmulo de lixo, mas a prefeitura mobilizou empresas terceirizadas para minimizar o problema.

Números da saúde

  • Postos de saúde mais prejudicados*:
  • Novo Continente: 75% de adesão
  • Itacorubi: 54,55%
  • Ponta das Canas: 52,94%
  • Trindade: 39,47%
  • Rio Tavares: 36%
  • Caps: 19,64%
  • Policlínicas: 8,07%

*Unidades não mencionadas apresentam mudanças parciais e pontuais na oferta dos serviços

Números da educação

Neim

  • Unidades sem atendimento: 3 (3,5%)
  • Unidades com atendimento normal: 13 (15,3%)
  • Unidades com atendimento parcial: 69 (81,2%)
  • Profissionais em greve: 1.400 (37,5%)
  • Profissionais que não aderiram à greve: 2.335 (62,5%)

Ensino fundamental

  • Unidade com atendimento normal: 4 (10,25%)
  • Unidades com atendimento parcial: 33 (84,61%)
  • Unidades sem atendimento: 2 (5,12%)
  • Profissionais que aderiram: 968 (47,71%)
  • Profissionais que não aderiram à greve: 1.061 (52,29%)

 

 

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