Operação Maktub: prefeito culpa vice e diz que acredita na honestidade de servidores

O prefeito de Forquilhinha, José Cláudio Gonçalves, o Neguinho, concedeu uma coletiva para prestar esclarecimentos sobre a Operação Maktub, deflagrada pela Polícia Civil na manhã desta terça-feira (27). A investigação apura supostas irregularidades em processos licitatórios da prefeitura.

Prefeito marcou uma coletiva de imprensa para prestar esclarecimentos sobre a Operação Maktub – Foto: Rachel Schneider/NDTV Criciúma

O inquérito policial investiga supostas irregularidades em concorrências públicas para a contratação de uma empresa especializada na fabricação e na instalação de estrutura metálica para a cobertura do ginásio anexo a uma escola no bairro Santa Líbera, em Forquilhinha.

A Polícia Civil cumpriu, além de um mandado de prisão preventiva e outro de prisão temporária, quatro afastamentos de funções públicas dos membros da comissão de licitação da Prefeitura de Forquilhinha.

“Eu acredito na capacidade, na competência e na honestidade da nossa comissão de licitação”, disse o prefeito no início da coletiva de imprensa. “O governo está tranquilo. Todos os nossos processos ocorrem com a maior lisura possível e nós determinamos que todas as licitações sejam rigorosamente dentro da lei”, acrescenta.

Ordem de serviço para obra foi assinada em dezembro de 2021

Segundo o prefeito, a ordem de serviço para a construção do ginásio foi assinada em 16 de dezembro de 2021. No entanto, em janeiro de 2022, o vice-prefeito, Valcir Antônio Matias, o Chile, assumiu a prefeitura de forma interina durante as férias de Gonçalves.

O inquérito policial investiga supostas irregularidades em concorrências públicas – Foto: Rachel Schneider/NDTV Criciúma

Mudança do local da obra

Durante esse período, o prefeito interino teria decidido mudar o local do ginásio, o que proporcionaria “um aterro de valores altíssimos”, conforme Gonçalves. “Eu fui contra. Inclusive, liguei e pedi várias vezes para que não houvesse a mudança”, relembra o chefe do Executivo. “Foram mais de dois mil caminhões de terra”, complementa.

Isso teria atrasado a obra em pelo menos seis meses, alega o prefeito. “Nós começamos a ter problemas de aditivos. Esse ginásio era para ter sido entregue no fim de 2022 e estamos até hoje sofrendo”, afirma Gonçalves.

Segundo a administração municipal, os problemas não pararam por aí. O projeto do telhado do ginásio necessitava de mudança, conforme o engenheiro da empresa executora. “Ele questionou que não teria suporte suficiente para aguentar a estrutura”, relatou na coletiva Odivaldo Dal Toé, gerente de Engenharia de Forquilhinha.

Nova licitação para a estrutura do telhado

Diante disso, outra licitação precisou ser feita, separada do ginásio. “Essa licitação ocorreu dentro dos padrões, da lei, então agora a gente está prestando todas as informações necessárias para a investigação”, explica o secretário de Administração e Finanças de Forquilhinha, Ricardo Ximenes.

O prefeito estima que os aditivos da obra, já que ela precisou de alterações, somam cerca de R$ 1,5 milhão. “Na minha opinião, foram três dificultadores dessa obra: a mudança [do local] e o aterro, o grande número de aditivos e a cobertura do projeto, que não comportava a real necessidade do ginásio”, pontua Gonçalves.

Durante a coletiva, o prefeito ainda afirmou que esse teria sido o motivo do rompimento entre ele e o vice-prefeito. “Esse ginásio é um calo do meu governo”, lamenta.

“Ele tentou tirar o corpo fora”, diz vice-prefeito ao ND Mais

Procurado pelo ND Mais, o vice-prefeito concedeu entrevista exclusiva à reportagem e afirmou estar indignado com as falas ditas pelo chefe do Executivo ao longo da coletiva desta manhã de terça-feira.

De acordo com Matias, no período em que assumiu o governo interinamente, a ordem de serviço da obra já havia sido entregue há 40 dias.

“Eu não mudei o local da obra, se houve mudança foram questões técnicas. Não participei de decisão nenhuma. Todas as decisões dele (prefeito) são centralizadas, tudo no gabinete dele”, garante.

O vice também se demonstrou aborrecido e questiona a correlação da investigação do atraso da obra, sobre a licitação da cobertura. “Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu não sei, ele tentou tirar o corpo fora”, completa.

Sobre as investigações da Operação Maktub

Conforme a Polícia Civil, o sócio de um dos negócios participantes da licitação procurou o órgão informando que o certame estava direcionado a uma empresa.

Ele apresentou documentos que demonstraram que o procedimento havia sido sustado pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) em duas oportunidades, em razão da inclusão de cláusulas restritivas, o que foi acatado pelo município.

Operação Maktub foi deflagrada pela Polícia Civil em seis cidades do Sul de Santa Catarina na manhã desta terça-feira (27) – Foto: Divulgação/DEIC/ND

Na terceira tentativa de contratação, logo após a entrega dos envelopes na prefeitura, o proprietário da empresa que seria supostamente favorecida, procurou o informante na tentativa de marcar um encontro em particular com o pretexto de vender algumas mercadorias.

Encontro entre empresários foi monitorado pela Polícia Civil

O encontro entre os empresários foi monitorado pela Delegacia de Combate à Corrupção após autorização judicial. Na ocasião, o investigado ofereceu R$ 20 mil para que o denunciante desistisse do certame ou confeccionasse outro envelope que seria substituído pela comissão de licitação.

Além dos mandados de prisão, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão  – Foto: Divulgação/DEIC/ND

O empresário acusado ainda afirmou que toda a estrutura metálica para a cobertura do ginásio já estava comprada e, desde o início, a obra seria de sua responsabilidade, razão pela qual havia cláusulas restritivas nos dois primeiros editais de licitação publicados.

Além dos mandados de prisão, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão em outras cinco cidades do Sul de SC.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.