Presságio: atleta organizador da Copa Desterro de Jiu-Jitsu é citado em áudios

A Operação Presságio, conduzida pela Polícia Civil de Santa Catarina, avança em um novo episódio nesta sexta-feira (23). Uma investigação realizada pelo portal ND Mais revelou que Ricardo Borges Bortoluzzi, apontado pela polícia como sócio-proprietário da Associação Brasileira de Incentivo ao Esporte e Cultura de Santa Catarina, responsável pela organização da Copa Desterro de Jiu-Jitsu, está envolvido em conversas sobre possíveis negociações de propina, conforme áudios obtidos pela equipe de reportagem.

Atleta nega envolvimento em esquema investigado na Operação Presságio

Atleta, Ricardo Borges Bortoluzzi nega envolvimento em esquema investigado na Operação Presságio – Foto: Reprodução/@ricardobortuluzzi/ND

A Polícia Civil investiga corrupção, lavagem de dinheiro e crimes ambientais por parte de agentes públicos e privados da cidade. Um dos principais nomes citados no processo é o de Renê Raul Justino, ex-diretor de Projetos da Fundação Franklin Cascaes, apontado como aliado de Ed Pereira, ex-secretário de Turismo de Florianópolis, alvo da investigação.

Em áudio enviado no dia 6 de dezembro de 2022, Renê explica o esquema para Ricardo:

“Cara, como é que é, o Ed ia precisar em torno de 60, 70 pau, tá ligado? Esse é o grande lance dele. Isso limpo, né. Então, qual era o grande lance do evento, fazer o evento entre 150 e 120, sacou? Porque daí o que acontece, ah vamos supor que é 150, tá ligado, 75 pra realização do evento, 75 pro Ed”, diz.

Foi este o áudio que viralizou nos últimos dias. Nele, Renê supostamente explica para Ricardo que Ed Pereira utilizaria parte do dinheiro para pagar “dívidas de campanha”.

“Setenta e cinco da realização do evento, dá pra realizar o evento, pagar todo mundo e sobrar uma grana massa pra ti! Setenta e cinco pro Ed, dá pra tirar 7 mil reais aí, que é o 10% que perde, tá ligado? Cara vamos supor setenta pro Ed limpo. Esses setenta pau pro Ed limpo, ele paga boa parte do que ele precisa, sabe? Porque ele tá pagando dívida de campanha, né. Ele vai pagar a gráfica, que era 20 pau da gráfica, e vai jogar 50 pau pro cunhado dele, que ele deve 300 pau pro cunhado dele!”, fala Renê.

Ouça o áudio:

Atleta nega envolvimento

Em sua defesa, o atleta negou qualquer envolvimento com as atitudes ilícitas. Por meio de nota seu advogado, Wilson Knoner, disse que:

“Embora não se recorde exatamente da mensagem em questão, o Sr. Ricardo pode afirmar sem sombra de dúvidas que jamais compactuou com ilicitudes e/ou irregularidades em eventos desportivos, tanto que o evento esportivo citado na mensagem não foi realizado, não ocorreu”, escreve.

Confira a defesa completa:

Nos últimos dias, o Sr. Ricardo teve seu nome veiculado diversas vezes na imprensa:

No contexto de trecho de processo judicial da Operação Presságio. Em que teria sido destinatário de mensagem de WhatsApp enviada por um dos investigados (Sr. Renê). 

Referida mensagem, segundo trechos de relatório da Polícia Civil que circula nos noticiários, indicaria possíveis ilicitudes que teriam sido sugeridas pelo investigado Sr. Renê e que serviriam para permitir arranjo ilegal em realização de evento esportivo para, segundo o relatório, desviar recursos públicos em prol de um ou mais investigados. 

Considerando esse contexto, desde logo o Sr. Ricardo informa que já peticionou espontaneamente à Autoridade Policial para se colocar ao dispor e prestar esclarecimentos sobre o fato noticiado, e bem assim a respeito de qualquer outro evento ou circunstância de interesse da investigação. 

E embora não se recorde exatamente da mensagem em questão, o Sr. Ricardo pode afirmar sem sombra de dúvidas que jamais compactuar com ilicitudes e/ou irregularidades em eventos esportivos, tanto que o evento esportivo citado na mensagem não foi realizado, não ocorreu. 

Além disso, esclarece que a Copa Desterro é evento privado e que recebe apoio eventual da Fundação Municipal de Esportes de Florianópolis/SC apenas no que tange ao transporte dos tatames, que é realizado com caminhão do órgão sob a forma de cortesia e incentivo, sem recebimento ou trâmite de recursos públicos.

A inserção de marca d’água ou marca da Fundação em Banners ou informativos do evento se deve em razão do apoio ofertado nos moldes acima citados.

Informa, ainda, que não é sócio nem proprietário da Associação “ABIESC”.

Por fim, buscará acesso aos respectivos autos de processo para tomar conhecimento e poder prestar todos os esclarecimentos necessários, estando seguro de sua inocência e convicto de que as autoridades e a Justiça farão o lapidar trabalho de apuração dos fatos.

Já a defesa do ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Ed Pereira disse que só irá se posicionar ao final das investigações.

A defesa de Renê também seguiu a mesma resposta que a do ex-secretário.

Prefeitura corta verbas

De 2018 a 2023, segundo o portal da transparência de Florianópolis, foram destinados R$ 1.2 milhões para a ONG Associação Brasileira de Incentivo ao Esporte e Cultura de Santa Catarina.

Núcleo anticorrupção corta verbas da associação de Ricardo investigado na Operação Presságio

Núcleo anticorrupção cortou verbas da associação – Foto: Leo Russo/PMF/Divulgação/ND

No entanto, após investigações do núcleo anticorrupção da prefeitura, os projetos pararam de receber verbas e agora estão com os fundos bloqueados de recebimento do poder público municipal.

A Organização faz parte de outras 70 que estão com as verbas suspensas pelo município que investiga possíveis irregularidades paralelamente à Polícia Civil.

Pedidos de afastamentos

  • Edmilson Carlos Pereira Junior (ex-secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Florianópolis)
  • Fabio Gomes Braga (ex-secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis)
  • Samantha Santos Brose (esposa de Ed Pereira e ex-assessora parlamentar do vereador Marquinhos)

Quais os crimes investigados

  • Crime ambiental de poluição
  • Fraude à licitação
  • Corrupção passiva e corrupção ativa
  • Associação criminosa
  • Lavagem de dinheiro

O que é a Operação Presságio?

2021 foi o ano em que iniciou a investigação, em virtude de crime ambiental de poluição que estaria ocorrendo pela empresa Amazon Fort em um terreno, adjacente à passarela Nego Quirido.

17 meses foi o tempo em que vigorou o contrato entre Amazon e Prefeitura de Florianópolis, sendo que R$ 29 milhões foi o total pago pela à empresa nos 17 meses do contrato.

Com o andamento das investigações, a Polícia Civil encontrou indícios de outras ilegalidades em contratos públicos e repasses de dinheiro, envolvendo empresários, secretários de Florianópolis e servidores públicos, além de empresas e organizações, como a Amazon Fort e o Instituto Bem Possível.

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